É impressionante o efeito dominó que ocorre em certas situações. Tenha criticado muito a fragilidade e a hipocrisia do agronegócio da cana no Estado de São Paulo. Com aclamações de combustível do futuro e ecologicamente correto para alguns, este tipo de economia no meu ver beneficia somente elites latifundiárias, marginaliza ainda mais os trabalhadores rurais e danifica o meio ambiente com suas gigantes plantações.
Nesta época seca tenho notado que não somente os bóias frias são tratados como escravos, nós todos viramos escravos também, porém deste sitema. Necessitamos da chuva para melhorar a poluição provocada pela queima da cana, mas se proibem a queima o preço do Álcool e da gasolina sobe, se proibem novamente, o cortador de cana não recebe o salário, e se recebe, ganha menos. Temos que lembrar que o bóia-fria recebe R$ 2,50 por tonelada de cana cortada, isto sim é a inovação tecnológica do agrishow. Estamos escravos a este sistema e nem doenças respiratórias e nem proibiçoes fajutas de queimadas podem reverter isto em curto prazo.
Segue abaixo um trecho retirado do Jornal A cidade de Ribeirão Preto, é intrigante:
A rotina do trabalhador envolvido com o processo de plantio, queima e transporte da cana-de-açúcar é árdua. Todos acordam cedo e ficam pelo menos até às 16 horas sob sol forte. Para evitar que o sol queime muito a pele é preciso usar calça e camisa de mangas compridas e chapéu com um lenço por baixo para evitar que orelhas e pescoço sejam atingidos pelos raios solares. Esta é a vestimenta de Derli de Jesus, 76 anos, há mais de 60 anos na lavoura. Ele já trabalhou no corte de cana e hoje limpa as ruas do canavial. “Está difícil trabalhar por causa do calor. Tomo quase 10 litros de água por dia. Mas a gente se acostuma com o serviço braçal. É mais duro para quem corta a cana crua. Trabalham muito e o serviço não rende. Com isto eles ganham menos”, afirma. O trabalhador Nilson Lima contabiliza na carteira profissional 37 safras. Diz que já fez de tudo no canavial e que nunca viu um clima tão ruim. “Para agüentar temos que comer bem e tomar cuidado para não deixar a comida azedar com este calor. O segredo é fazer antes de vir para o trabalho e colocar quentinha na marmita. Deu 11 horas tem que comer. Se passar deste horário estraga tudo”, comenta. O calor atrapalha a vida de todos os trabalhadores do campo. João Xavier da Silva classifica o clima atual como “terrível”. “A chuva tem que vir logo”, afirma.
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