Devido a pedidos resolvi exemplificar a receita de bolo, primeiramente gostaria de deixar bem claro que não possuo nenhum conflito pessoal com os autores. As bibliografias são publicadas para receberem críticas positivas e negativas, fator essencial para o avanço da ciência.
1- Título criativo incriminando grupos humanos politicamente fracos e oprimidos: O impacto dos Guarani sobre Unidades de Conservação em São Paulo*.
* OLMOS, F. ; BERNARDO, C. S. S. ; Galetti, M. . O impacto dos Guarani sobre Unidades de Conservação em São Paulo. In: Ricardo, F. (Org.). Terras Indígenas e Unidades de Conservação da Natureza: o desafio das sobreposições. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2004, p. 246-261.
2- Introdução histórica e propagandística:
“A Mata Atlântica já ocupou o equivalente a 1,35 milhões de km2, mas hoje é um dos biomas mais ameaçados e com a maior concentração de espécies em perigo por ter sido reduzida a 7,3% de sua extensão original (Fundação SOS Mata Atlântica & Inpe 2002). A maior parte das florestas existentes está em estágio inicial/médio de sucessão vegetal, ocupando áreas antes degradadas por desmatamentos ou poluição.”
“Indigenistas têm frequentemente usado o argumento que a ocupação indígena contemporânea de UCs na região é “tradicional” devido à presença de sambaquis e testemunhos históricos da presença de grupos Tupi na região. Mas não há absolutamente evidência cultural, arqueológica, genética ou antropológica que ligue os povos sambaquieiros (extintos após a chegada dos Tupi e dos subgrupos Guarani entre 800 e 1.000 d.C.) aos grupos Guarani contemporâneos que reivindicam terras na Mata Atlântica paulista (Uchoa, 1982; Figuti 1999; Gaspar, 2000).”
E porque não vender a idéia (notem a criação do vilão):
“O território de algumas UCs paulistas apresenta sobreposição parcial ou total com terras ocupadas por grupos Guarani ao longo da faixa florestada das serras do Mar, Paranapiacaba e Itatins. Esta sobreposição é resultado de diferentes processos e constitui um dos maiores problemas para a conservação da biodiversidade no que é um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica no planeta.”
“Há pouca esperança de que as UCs na Mata Atlântica ocupadas por “populações tradicionais” abrigarão sua biodiversidade original no futuro, já que a exploração comumente predatória dos recursos naturais (facilitada pela relativa imunidade legal dos índios e processos judiciais lentos) aliada ao crescimento populacional destas comunidades eventualmente terminará por deixar estes territórios tão modificados e empobrecidos como a maioria das terras que não dispõem de proteção integral”.
3- E os objetivos, bem retilíneo e simples,:
“Ao contrário dos etno-pesquisadores, cientistas naturais como os biólogos formulam perguntas sobre o impacto humano à biota impactada, e não às populações impactantes, uma abordagem que busca estudar a realidade de forma menos subjetiva.”
1- Título criativo incriminando grupos humanos politicamente fracos e oprimidos: O impacto dos Guarani sobre Unidades de Conservação em São Paulo*.
* OLMOS, F. ; BERNARDO, C. S. S. ; Galetti, M. . O impacto dos Guarani sobre Unidades de Conservação em São Paulo. In: Ricardo, F. (Org.). Terras Indígenas e Unidades de Conservação da Natureza: o desafio das sobreposições. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2004, p. 246-261.
2- Introdução histórica e propagandística:
“A Mata Atlântica já ocupou o equivalente a 1,35 milhões de km2, mas hoje é um dos biomas mais ameaçados e com a maior concentração de espécies em perigo por ter sido reduzida a 7,3% de sua extensão original (Fundação SOS Mata Atlântica & Inpe 2002). A maior parte das florestas existentes está em estágio inicial/médio de sucessão vegetal, ocupando áreas antes degradadas por desmatamentos ou poluição.”
“Indigenistas têm frequentemente usado o argumento que a ocupação indígena contemporânea de UCs na região é “tradicional” devido à presença de sambaquis e testemunhos históricos da presença de grupos Tupi na região. Mas não há absolutamente evidência cultural, arqueológica, genética ou antropológica que ligue os povos sambaquieiros (extintos após a chegada dos Tupi e dos subgrupos Guarani entre 800 e 1.000 d.C.) aos grupos Guarani contemporâneos que reivindicam terras na Mata Atlântica paulista (Uchoa, 1982; Figuti 1999; Gaspar, 2000).”
E porque não vender a idéia (notem a criação do vilão):
“O território de algumas UCs paulistas apresenta sobreposição parcial ou total com terras ocupadas por grupos Guarani ao longo da faixa florestada das serras do Mar, Paranapiacaba e Itatins. Esta sobreposição é resultado de diferentes processos e constitui um dos maiores problemas para a conservação da biodiversidade no que é um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica no planeta.”
“Há pouca esperança de que as UCs na Mata Atlântica ocupadas por “populações tradicionais” abrigarão sua biodiversidade original no futuro, já que a exploração comumente predatória dos recursos naturais (facilitada pela relativa imunidade legal dos índios e processos judiciais lentos) aliada ao crescimento populacional destas comunidades eventualmente terminará por deixar estes territórios tão modificados e empobrecidos como a maioria das terras que não dispõem de proteção integral”.
3- E os objetivos, bem retilíneo e simples,:
“Ao contrário dos etno-pesquisadores, cientistas naturais como os biólogos formulam perguntas sobre o impacto humano à biota impactada, e não às populações impactantes, uma abordagem que busca estudar a realidade de forma menos subjetiva.”
Mas ainda assim a ciência continua humana...
“Desta forma, o intuito dessa pesquisa foi determinar a abundância de mamíferos e aves de grande porte (medida em avistamentos a cada 10 Km) em cinco diferentes regiões do Parque. Com base nestes resultados foi verificado se a atividade de caça dos Guarani Mbyá e caiçaras (aqui medida como uma função da distância de suas vilas) influencia a abundância de mamíferos e aves de grande porte dessa UC de Proteção Integral. Espera-se que, se existe impacto, espécies mais vulneráveis à ação humana ocorram em maiores densidades em áreas mais afastadas das vilas, ou mesmo apenas aí. Se a presença humana não for negativa, este efeito não deverá ocorrer.”
*Mas qual é padrão de distribuição da fauna dentro da ilha ou até mesmo na região do vale do Ribeira? Qual o deslocamento e área de vida dos grupos de animais atingidos?
4- Resultados: A regra é test T, isto é, usar ánalise univariada para temas complexos.
“Encontramos uma correlação altamente significativa entre abundância de mamíferos cinegéticos e distância de habitações humanas no PEIC (r2=0,09; F=6,27; P=0,014), porém o mesmo não foi obtido para aves (r2=0,0003; F=0,02, P=0,86). Isso significa que quanto mais longe de uma vila maior a abundância de mamíferos cinegéticos, porém o mesmo não ocorre para aves.”
Pronto está provado, agora é só colocar uma CERCA.
5- Discussão: Agora é usado todo poder imaginativo....
“O Parque Estadual Ilha do Cardoso pode ser considerado uma “floresta quase vazia” (Redford, 1992) devido à baixa abundância de espécies de aves e mamíferos cinegéticos”.
Agora um pouco de psicologismo.....
“É uma demonstração de esquizofrenia social o fato dos índios do Peic possuírem auxílio de entidades e benefícios da sociedade envolvente, tais como cestas básicas distribuídas regularmente e aposentadorias pelo INSS (dificilmente formas tradicionais de subsistência), e ao mesmo tempo dilapidem o patrimônio natural do Peic através de suas atividades de caça sob o manto da “manutenção da cultura tradicional”. É bastante claro que as atividades dos índios são incompatíveis com as funções para as quais o Peic foi criado e para a perenidade de seus atributos”.
6- E para terminar:
“Este processo de invasão, facilitado pela forma condescendente (para não dizer incentivo) com que parte do Judiciário trata os autores, é uma das maiores ameaças à sobrevivência das Unidades de Conservação na Mata Atlântica, pois vitima exatamente as áreas que deveriam estar seguras do impacto antrópico e serem testemunho de como ecossistemas funcionam e são ricos quando livres da exploração humana. Apoiar demandas de “povos tradicionais” não implica necessariamente em conservação de ecossistemas e da biodiversidade. Entidades indigenistas e seus simpatizantes no Ministério Público precisam abandonar a visão de que é possível o retorno dos povos indígenas à forma de vida que pertence a um passado idealizado que nunca foi idílico. Devemos voltar nossa visão para como será o futuro. Da mesma forma como deploramos hoje o que nossos ancestrais fizeram com nosso meio ambiente e como construíram nossa sociedade desigual, nossos descendentes nos culparão se sacrificarmos desnecessariamente áreas naturais preciosas pela messiânica busca de “terras sem males” e numa mal direcionada tentativa de compensação aos índios pelos atos cometidos no passado.”
Será que é isto que o Brasil precisa no Futuro? Aumento da exclusão social, cegueira contra a verdadeira realidade social do país, muros e cercas, políticas somente para elites, arrogância cientifica, brigas entre indigenistas e conservacionistas. Acho que humildade é que nos falta.
Para ver texto completo clique no link:
http://ns.rc.unesp.br/ib/ecologia/fenologia/Papers/Olmos,%20Bernardo%20&%20Galetti.pdf
“Desta forma, o intuito dessa pesquisa foi determinar a abundância de mamíferos e aves de grande porte (medida em avistamentos a cada 10 Km) em cinco diferentes regiões do Parque. Com base nestes resultados foi verificado se a atividade de caça dos Guarani Mbyá e caiçaras (aqui medida como uma função da distância de suas vilas) influencia a abundância de mamíferos e aves de grande porte dessa UC de Proteção Integral. Espera-se que, se existe impacto, espécies mais vulneráveis à ação humana ocorram em maiores densidades em áreas mais afastadas das vilas, ou mesmo apenas aí. Se a presença humana não for negativa, este efeito não deverá ocorrer.”
*Mas qual é padrão de distribuição da fauna dentro da ilha ou até mesmo na região do vale do Ribeira? Qual o deslocamento e área de vida dos grupos de animais atingidos?
4- Resultados: A regra é test T, isto é, usar ánalise univariada para temas complexos.
“Encontramos uma correlação altamente significativa entre abundância de mamíferos cinegéticos e distância de habitações humanas no PEIC (r2=0,09; F=6,27; P=0,014), porém o mesmo não foi obtido para aves (r2=0,0003; F=0,02, P=0,86). Isso significa que quanto mais longe de uma vila maior a abundância de mamíferos cinegéticos, porém o mesmo não ocorre para aves.”
Pronto está provado, agora é só colocar uma CERCA.
5- Discussão: Agora é usado todo poder imaginativo....
“O Parque Estadual Ilha do Cardoso pode ser considerado uma “floresta quase vazia” (Redford, 1992) devido à baixa abundância de espécies de aves e mamíferos cinegéticos”.
Agora um pouco de psicologismo.....
“É uma demonstração de esquizofrenia social o fato dos índios do Peic possuírem auxílio de entidades e benefícios da sociedade envolvente, tais como cestas básicas distribuídas regularmente e aposentadorias pelo INSS (dificilmente formas tradicionais de subsistência), e ao mesmo tempo dilapidem o patrimônio natural do Peic através de suas atividades de caça sob o manto da “manutenção da cultura tradicional”. É bastante claro que as atividades dos índios são incompatíveis com as funções para as quais o Peic foi criado e para a perenidade de seus atributos”.
6- E para terminar:
“Este processo de invasão, facilitado pela forma condescendente (para não dizer incentivo) com que parte do Judiciário trata os autores, é uma das maiores ameaças à sobrevivência das Unidades de Conservação na Mata Atlântica, pois vitima exatamente as áreas que deveriam estar seguras do impacto antrópico e serem testemunho de como ecossistemas funcionam e são ricos quando livres da exploração humana. Apoiar demandas de “povos tradicionais” não implica necessariamente em conservação de ecossistemas e da biodiversidade. Entidades indigenistas e seus simpatizantes no Ministério Público precisam abandonar a visão de que é possível o retorno dos povos indígenas à forma de vida que pertence a um passado idealizado que nunca foi idílico. Devemos voltar nossa visão para como será o futuro. Da mesma forma como deploramos hoje o que nossos ancestrais fizeram com nosso meio ambiente e como construíram nossa sociedade desigual, nossos descendentes nos culparão se sacrificarmos desnecessariamente áreas naturais preciosas pela messiânica busca de “terras sem males” e numa mal direcionada tentativa de compensação aos índios pelos atos cometidos no passado.”
Será que é isto que o Brasil precisa no Futuro? Aumento da exclusão social, cegueira contra a verdadeira realidade social do país, muros e cercas, políticas somente para elites, arrogância cientifica, brigas entre indigenistas e conservacionistas. Acho que humildade é que nos falta.
Para ver texto completo clique no link:
http://ns.rc.unesp.br/ib/ecologia/fenologia/Papers/Olmos,%20Bernardo%20&%20Galetti.pdf
Comentários
Me pergunto qual é o valor de um processo tanto científico como pessoal que não enriquece tua vista com outros pontos?
Qual a jsutificativa de um cientista natural ignorar as variáveis de comportamento, hábitat que levam um animal a distribuir-se de maneira desigual por um mesmo bioma?
O que significa um cientista renomado e finaciado supor que esses animais cinegétios ocupariam uniformemente a mata atlântica, com toda sua diversidade de habitats, senão provar sua própria ideologia?
Quanto à "imunidade legal" dos "silvícolas" (equiparados aos "pródigos" e "loucos de todo o gênero" no nosso brilhante Código Civil), existe uma resposta muito simples: a Lei está errada? Mude-se a Lei... Mas, na verdade, nem é necessário mudar coisa alguma: basta lançar sobre os corruptores dos índios as agravantes, previstas no Código Penal, de quem se aproveita da incapacidade alheia para corrompê-lo. Índio algum vai cortar madeira e caçar animais, se não houver quem os compre...
Argumentozinho racista, estúpido e mero pretexto para se livrar de dois problemas de uma só vez: da fiscalização e dos índios.